Redenção paginada

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Voltou. Finalmente. À custa da morte de uma história em forma de homem. Talvez precisasse disso. Talvez precisasse de saber que o mundo está mais vazio e - coisa estranha - muito mais pequeno. Para redescobrir a vida na literatura. Para que as páginas me prendam e . Para que Steinbeck, o meu Steinbeck, me faça cismar. Laxness murmura, na minha estante. Mailer. Tolstoi. Musil. Neruda. Gabo. Raúl Brandão. Redescubro a vida nos livros, e compreendo. Ler jornais, pasquins desidratados, é uma perda de tempo, um estertor e um insulto ao tempo limitado de que aufiro.

A salvação do mundo, se ainda a podemos encetar, está fugida, algures, nas páginas de Borges. E de Saramago e John dos Passos e Naguib Mahfouz e Orhan Pamuk e Marguerite Yourcenar e Harper Lee e Carson McCullers e Truman Capote e Umberto Eco e Aquilino Ribeiro e Sophia. E de Miguel Torga e Cervantes e Zola e Camões e António Ferreira e Aristófanes e Ibsen e Strindberg e Miller e Brecht e Luandino Vieira e Mia Couto e Tagore e Jorge Amado e George Orwell e Kurt Vonnegut e Isaac Asimov e Phillip K. Dick e Omar Khayyam e todos os autores das 1001 Noites e TH Lawrence e Flannery O'Connor e Laurence Sterne e Thomas Pynchon e João Aguiar e Rubem Fonseca e Czeslaw Milozs e Primo Levi e Italo Calvino e Eça e Ramalho e Herculano. Felizmente, não nos podem tirar este delírio suave, este listar de universos que rebentam, num fragor mudo, com as fronteiras impostas por um país pequeno, governado a partir da cátedra por devoradores da dignidade.

Se tivesse presenciado a queima dos livros, em frente à actual Faculdade de Direito da Humboldt Universität, penso que arriscaria a vida para salvá-los. E, se me perguntassem porquê, dir-lhes-ia: "não os salvo por ser altruísta. Salvo-os para que eles me salvem, para que possam salvar o mundo da escuridão".

1 comentários:

Julia disse...

nem que, para isso, os tivessemos que decorar e murmurar aos outros