quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

"Ia pela estrada e deixei-me levar pelos atalhos. De que servem os arrependimentos e os minutos contados na escuridão? Sou deixado para trás, aos pontapés e safanões (como se servissem algum propósito). Se tudo acaba naquele ponto ermo, tanto faz acabar corroído, redimido ou reconhecido. Talvez seja preferível viver como réptil, agarrado à esperança mais rasteira e espoliado do destino". "É isso que sente? Por que razão refere a imagem de um réptil?". "Não, doutor, estou deitado neste divã a falar de estradas por desígnio lúdico. Escrever num blog deixou de bastar, e precisei de vir aqui". "E o que pensa em relação a isso?". "Pouco importa o que penso. Vou para casa demorar-me no horizonte: é tempo melhor empregue. Passo-o, ao menos, sem fitar gente e, até agora, os átomos não respondem mal às minhas observações". "Muito bem, tome este medicamento e deixa de ver répteis". "Não é uma questão de ver ou deixar de ver. Passa por desejar um retorno à reptilianidade mais grotesca. Posso ficar aqui deitado durante quinze dias, que a vontade ficará."

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