Voltando à arte de divagar

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Não, na verdade não quero que tudo se foda e todos se fodam.

Foi uma maneira estrepitosa de declarar a minha fúria perante forças incontroláveis. Os biólogos dizem que, em face de ameaças, desenvolvemos duas respostas adaptativas: fight or flight, agressão ou fuga. Geralmente, reajo de forma violenta à ameaça - perder as estribeiras, ter mau feitio ou desatar a vituperar todas as partículas do universo.

Depois, reflicto.

E então? Que me poderá acontecer? Ter um trabalho completamente banal, desesperante e insultuoso das minhas capacidades e formação? Ter que esperar na fila para uma sopa caritativa? Que eu saiba, ter um trabalho não é indigno. E ser obrigado a auferir de caridade alheia, em situação de necessidade, não é o pior que pode ocorrer.

Nestes momentos, percebo quão impregnado estou de todos os preconceitos da classe média mesquinha e diminuta. E que não valorizo suficientemente os meus próprios princípios. Que não alimentam ninguém, é certo. Mas, pelo menos, legam-me o consolo de saber que, ao contrário de alguns, não desvalorizo a adversidade e não anseio por reconhecimento. Contradição absurda: ansiar a admiração de seres cuja existência deploro.

Talvez esteja a caminho de me tornar um outro Orwell.

Como diz certo filme pastoso: ou nos ocupamos da vida, ou nos ocupamos da morte.

Eu, por mim, escolho (invariavelmente) vacilar. A algum lado hei-de chegar.

"In Spanish there is a word for which I can't find a counterword in English. It is the verb vacilar, present participle vacilando. It does not mean vacillating at all. If one is vacilando, he is going somewhere, but does not greatly care whether or not he gets there, although he has direction. Everything in the world must have a design or the human mind rejects it. But in addition, it must have purpose or the human conscience shies away from it."

John Steinbeck

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